Uns meses atrás eu estava completamente imersa em um projeto super importante do meu trabalho. Como aquele projeto era 100% responsabilidade minha, passei semanas vivendo e respirando seus altos, baixos e estresses; comemorando cada pequeno passo que dava em direção ao seu sucesso, mas ao mesmo tempo – e, talvez, com a mesma intensidade – sofrendo com cada incêndio que aparecia no meio do caminho.
Em um dia de puro caos, uma colega do escritório percebeu meu desespero e me incentivou a desabafar. Depois que eu tagarelei por dez minutos, ela disse: “Você sabe que poderia ter pedido minha ajuda antes, né?” Eu respondi que isso não tinha nem me passado pela cabeça, afinal não tinha nada a ver com o escopo ou função dela. Ela responde: “Somos parte de uma equipe. Isso significa que podemos sair da nossa função original para ajudar uma colega que está em apuros.”
Essa interação me fez perceber como, em geral, não pedimos ajuda. Ou, ao menos, não pedimos tanta ajuda quanto poderíamos ou deveríamos pedir. Fomos condicionadas a sermos fortes, independentes, autossuficientes e a darmos conta de tudo sozinhas. O que, por si só, não tem absolutamente nada de errado. Que bom que vivemos numa época em que temos liberdade, autonomia, autoconfiança e coragem para, de fato, liderarmos nossas vidas e tomarmos nossas decisões – mas em dias que me vejo cansada das responsabilidades, eu também penso: eu não quero dar conta de tudo sozinha.
Falamos muito sobre a necessidade e a importância de formarmos redes de apoio ao nosso redor, que nos ofereçam uma base sólida que nos conforte e ampare; que ajudem a manter nossa estabilidade e saúde mental. E eu acredito que nós de fato criamos e nutrimos essas redes, mas será que nós as usamos na frequência, recorrência e intensidade que poderíamos?
Recentemente uma amiga me contou que estava lidando sozinha com um problema muito penoso e desgastante. Foi só após semanas de exaustão que, ao perceber que um leve desespero se aproximava, ela decidiu finalmente pedir ajuda. “Não estou dando conta sozinha”, disse ela ao telefone à sua irmã, que, por sua vez, prontamente a socorreu e apoiou.
Eu admiro muito que ela tenha conseguido deixar de lado suas resistências e reconhecido que precisava que mais alguém carregasse aquela barra junto com ela; porém não pude deixar de me atentar ao fato de que ela só o fez depois de semanas de um sofrimento solitário que lhe consumia enquanto tentava equilibrar sozinha uma dúzia de pratinhos ao mesmo tempo.
Assim como ela, já vi acontecer o mesmo comigo: a vontade genuína de ser um verdadeiro polvo que estende seus tentáculos para todos os lados e consegue abraçar todas as situações. Aquela necessidade de carregar de uma vez só todas as responsabilidades e deveres, de assumir muito mais que posso lidar pela simples ilusão pessoal de que eu preciso dar conta. É um misto de não querer atrapalhar os outros com achar que só eu sou capaz de resolver/cuidar de alguma situação específica, e ainda uma certa culpabilização própria disfarçada de empoderamento.
Pra mim, o mais desafiador de manter em mente é que uma coisa não exclui a outra: não é porque somos fortes, independentes e capazes – e que nós podemos, sim, dar conta de tudo sozinhas – que não devemos pedir ajuda de vez em quando, para evitar que a exaustão tome conta. É normalizar o ato de distribuir pratinhos para nossa rede de apoio em vez de tentar equilibrá-los de uma só vez.
Claro que nada na vida é perfeito ou está a salvo de problemas, então pode ser que os pratinhos caiam até mesmo com outras pessoas segurando. Mas pelo menos saberemos que haverá mais alguém ali pra ajudar a recolher os cacos e, quem sabe, até mesmo colá-los de volta.