Muito antes de se saber o que é endometriose, acreditava-se que boa parte das dores e queixas das mulheres era causada pelo útero, mais especificamente por uma doença misteriosa chamada “sufocação do útero”. Essa “doença” fazia o útero sair de seu habitat natural para passear pelo corpo, sufocando os outros órgãos e provocando o caos.
Hoje sabemos que essas crenças eram construídas pelos vieses que a medicina sempre teve em relação às mulheres, além da falta de informações concretas sobre o corpo feminino. Mas quando pensamos em o que é endometriose – uma doença que leva células semelhantes ao tecido da camada interna do útero a aparecerem em diferentes órgãos, causando dores e inflamações – a imagem do útero causador de discórdia não parece tão estranha.
A conexão não passa de uma piada, mas pode ajudar na conscientização sobre uma doença que até hoje desafia os profissionais de saúde e leva 1 em cada 10 pessoas com útero a conviver com dores intensas e debilitantes. A endometriose é hoje a principal causa de infertilidade feminina e do afastamento profissional de quem é atingido por ela. Por isso, a doença foi considerada recentemente uma questão de saúde pública pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Por aqui, informação é nossa ferramenta preferida para iniciar mudanças, e não poderia ser diferente no caso da endometriose. Para deixar a conversa ainda mais especial, convidamos a expert no assunto, Dra. Juliana Sperandio, para construir um conteúdo bem completo sobre o tema junto e nos ajudar a desvendar de uma vez por todas o que é endometriose.
Vamos juntas?
O que é endometriose?
A parte interna do nosso útero é revestida por um tecido chamado endométrio.
O endométrio tem um papel super importante no processo de preparação pelo qual o nosso corpo passa todo mês para receber e acomodar um possível embrião. Esse processo evolui de acordo com as diferentes fases do ciclo menstrual, fazendo com que o endométrio se transforme a partir das flutuações hormonais do organismo.
Quando não acontece a fertilização, ou seja, a gravidez, boa parte desse tecido se descama e vai embora do nosso corpo com a menstruação – e o que sobra dele volta a crescer dentro do útero, formando uma nova camada que fica cada vez mais espessa com o passar dos dias, dando início a um novo processo. O que sobrou dele volta a crescer dentro do útero, formando uma nova camada espessa com o passar dos dias, e todo o processo se repete.
Tudo muito bom, tudo muito bem. O problema é quando algumas células semelhantes às endometriais surgem e se desenvolvem em outros órgãos, fenômeno que caracteriza o que é endometriose. Resultado? Esse comportamento atípico pode comprometer diversos órgãos da região pélvica e abdominal, como ovários, tubas uterinas, bexiga, intestino, diafragma e peritônio pélvico (a parede que forra a parte abdominal do corpo humano).
A consequência dessa proliferação de células semelhantes às endometriais fora de seu “habitat natural” é a tal da endometriose, doença cujo principal sintoma é a DOR.
O que causa a endometriose?
Além do mistério sobre o que é endometriose, outra pergunta de um milhão de dólares relacionada à doença é a seguinte: afinal, de quem é a culpa? Ou seja, o que causa a endometriose?
Essa é mais difícil de responder. A endometriose é complexa por ser uma doença multifatorial, ou seja, existem vários motivos que explicam seu aparecimento, progressão e controle, e todos eles precisam ser levados em conta tanto na hora do diagnóstico, quanto na hora do tratamento.
Entre eles, estão fatores:
- Genéticos;
- Ambientais;
- Comportamentais;
- Embriológicos;
- Imunológicos;
- Hormonais.
Quais são os sintomas da endometriose?
Sabemos o que é endometriose e como ela se manifesta, mas os sintomas são muito comuns e podem atingir qualquer pessoa com útero em idade reprodutiva sem que isso signifique algo grave. É por isso que hoje quem sofre de endometriose costuma demorar de cinco a sete anos para receber um diagnóstico.
Outro obstáculo para o diagnóstico adequado está na forma como esses sintomas são negligenciados por muitos profissionais de saúde, justamente por serem questões consideradas femininas – ou seja, de menor importância ou sinônimo de algo natural que deve ser suportado.
É por isso que a conscientização sobre o que é endometriose é tão importante: é a partir da informação que muitas mulheres descobrem que sentir dor não é normal, e então procuram ajuda.
Os seis D’s da endometriose
Para listar os sintomas da endometriose e facilitar a identificação da doença, podemos citar os Seis Ds ligados à doença:
- Dificuldade para engravidar;
- Dor e desconforto nas relações sexuais;
- Dor ao urinar;
- Dor ao evacuar;
- Dor entre as menstruações;
- Dismenorreia (em bom português, cólicas intensas no período menstrual).
Como é feito o diagnóstico?
Uma conversa detalhada em consulta com ginecologista, associada ao exame físico feito dentro do consultório é o primeiro passo para o diagnóstico de endometriose. Nenhum segredo nessa etapa: sua médica ou médico realiza avaliação abdominal, exame especular (visualização do canal vaginal e do colo do útero) e toque vaginal, como na maioria das consultas ginecológicas presenciais, e observa se algo parece estar diferente do comum.
Se a suspeita ganhar mais pistas, é recomendado que exames de imagem sejam feitos – geralmente ultrassom endovaginal e/ou ressonância magnética com preparo do intestino.
Mas por que dói tanto?
Mesmo quem não sabe exatamente o que é endometriose costuma associar o termo à dor – faz sentido, já que a dor é mesmo o principal sintoma da doença. Isso acontece porque mesmo fora de seu local de origem, o endométrio continua executando suas funções originais. Ou seja, ele pode crescer e promover inflamação local, já que segue o ritmo do ciclo menstrual.
Se no útero essa rotina já causa um certo desconforto, fora dele o resultado é um processo inflamatório que pode ser intensamente dolorido e muito debilitante. Em quadros mais graves, a endometriose pode infiltrar músculos e nervos, levando a quadros de fibrose, dor crônica e até mobilidade reduzida.
A doença da mulher moderna?
As pesquisas mostram que a endometriose é mais frequente hoje do que na época das nossas avós. O que pode explicar essa alta nos diagnósticos? A resposta da ciência mistura algumas características relacionadas a o que é endometriose e sobre como a doença se comporta a além de levar em conta algumas circunstâncias específicas da nossa época.
Olha só algumas razões que explicam esse crescimento no número de casos identificados:
- Mais recursos que facilitam o diagnóstico;
- Mais conscientização a respeito dos sintomas (repete com a gente: sentir dores incapacitantes não é normal!);
- Estilo de vida de países industrializados: estresse excessivo, exposição a químicos e agrotóxicos, alimentação desequilibrada, sedentarismo e falta de sono reparador são fatores que podem estar ligados ao aparecimento e à evolução da doença.
Endometriose tem alguma coisa a ver com saúde mental?
Uma pesquisa feita pelo Grupo de Apoio às Portadoras de Endometriose e Infertilidade (Gapendi) relaciona o diagnóstico da doença com o desenvolvimento de problemas de saúde mental. Entre as 3 mil entrevistadas no estudo, 50% sofriam de transtorno de ansiedade e 34% de depressão.
Além de ter o estresse praticamente como parte do que é endometriose e fator de risco para o agravamento dos sintomas, esse mesmo estresse pode ser uma consequência da doença.
Pudera, né? A dor por si só já mexe com a cabeça de qualquer uma. Some isso às dificuldades para o diagnóstico (que pode levar anos e depender de uma longa peregrinação por diversos profissionais) e à preocupação com as consequências da endometriose (exemplo: um possível quadro de infertilidade).
Por isso, muitos ginecologistas já argumentam que o acompanhamento psicoterápico é aliado importante do tratamento da doença e deve fazer parte da conversa desde o momento em que a pessoa diagnosticada começa a descobrir o que é endometriose.
Endometriose tem cura?
Depende do que entendemos como cura.
Com o tratamento adequado, é possível controlar os sintomas da doença e ter uma vida praticamente normal, com menos dor e mais bem-estar físico e mental. Cada corpo é único, por isso a abordagem terapêutica deve ser individualizada e multidisciplinar, considerando o que é endometriose para cada pessoa diagnosticada. Dependendo do caso, o tratamento pode envolver desde mudanças de estilo de vida até intervenções cirúrgicas.
Para quem sofre com dores, mas não pensa em engravidar no momento, por exemplo, profissionais da saúde podem recomendar o uso de contraceptivos específicos como parte do tratamento.
Já para as pessoas com endometriose cuja maior preocupação é a dificuldade de engravidar, tanto a cirurgia quanto a fertilização in vitro podem ser soluções pontuais para o problema.
Repetimos: todo corpo é único e o tratamento adequado para cada caso deve ser cuidadosamente discutido com sua médica ou médico – e, claro, a solução tem que fazer sentido para a sua vida.
Peraí, o que é endometriose para a minha fertilidade? Posso ficar infértil?
A endometriose muda a anatomia do nosso corpo, gerando até algumas inflamações: nosso organismo não reconhece o endométrio crescendo fora do útero e fica em estado de alerta, o que impacta nossa ovulação.
A doença pode afetar o funcionamento das trompas de Falópio, os canais entre ovários e útero. Mais que isso, a presença de endometriomas ovarianos (cistos de endometriose nos ovários) pode comprometer a reserva ovariana, tanto em quantidade quanto em qualidade.
Com todos esses fatores juntos, engravidar pode se tornar mais difícil — mas não impossível. Por isso, além de entender o que é endometriose, quem tem a doença não pode deixar de ir sempre ao médico ginecologista.
Consultar um especialista em reprodução humana e acompanhar o hormônio antimülleriano (HAM), o principal indicador de quanta reserva ovariana você tem, também são boas ideias – especialmente se você pensa em engravidar algum dia. Com isso, a Oya pode te ajudar desde já. Vem!