Dra. Juliana Sperandio, a especialista em cirurgias da Oya!

A endometriose é uma condição ginecológica que atinge cerca de sete milhões de brasileiras, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Frebasgo), por sua vez, pontua que os miomas uterinos, outra doença ginecológica, atingem até 50% da população do sexo feminino em idade reprodutiva

E o que elas têm em comum? Muitas vezes, o tratamento para essas condições são as cirurgias ginecológicas. Por isso, é fundamental contar com uma ginecologista especializada em cuidados específicos para estas questões e também capacitada para a realização de procedimentos cirúrgicos em ginecologia.

Pensando nisso, a Oya Care bateu um papo com a Dra. Juliana Sperandio, especialista em cirurgias ginecológicas minimamente invasivas e com mais de mil cirurgias no currículo. Além de focar no tratamento de pessoas com endometriose, miomas e pólipos, por exemplo, ela tem uma abordagem multidisciplinar, individualizada e uma importante bagagem acadêmica e profissional. Quer saber mais? É só continuar lendo!

Bate-papo com a Dra. Juliana Sperandio: “É preciso desmistificar a ideia de que precisamos aguentar tudo”

Confira, abaixo, a nossa entrevista com a Dra. Juliana Sperandio, líder de cirurgias ginecológicas e especialista em endometriose da Oya Care!

Você sempre quis ser médica? Como se encontrou na ginecologia?

Dra. Juliana: Sempre fui encantada pelo cuidado. Em casa, desde pequena, esse era um universo que fazia parte da minha realidade pessoal e que me cativava. Por isso, sempre soube que queria ser médica

Depois de entrar na faculdade de medicina [Faculdade Estadual de Medicina de São José do Rio Preto], um novo mundo se abriu: fui exposta a novas realidades, novas maneiras de cuidado. E me interessava muito toda a parte cirúrgica, mas eu sentia falta de ter também uma conexão [com o paciente]. A área que mais me brilhou os olhos foi a Ginecologia e Obstetrícia.

Quando passei pelo estágio da ginecologia e obstetrícia, realmente me apaixonei pela área. Decidi que era o que eu queria porque conseguia unir a cirurgia à minha paixão pela conexão com as pessoas, por ajudar mulheres a entenderem melhor os seus corpos. 

Além da residência em ginecologia, você fez uma segunda especialização. Fala mais sobre ela?

Dra. Juliana: Depois de terminar a especialização na área de ginecologia e obstetrícia [no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)], optei por seguir atuando como ginecologista. Apesar de também amar a obstetrícia, meu perfil era mais alinhado com a cirurgia e com esse atendimento ginecológico. 

E sempre existiu [em mim] essa vontade de entregar o melhor possível [para as pacientes], então eu sabia que precisava ter acesso às melhores e mais avançadas tecnologias em cirurgia. Foi quando decidi fazer uma segunda residência médica, também na FMUSP, em Endoscopia Ginecológica, que é a área de cuidado cirúrgico envolvendo as cirurgias minimamente invasivas em ginecologia.

Foi logo depois dessa residência que comecei a atender pacientes com endometriose e dor pélvica crônica. E fiz também, em seguida, uma especialização em cirurgia robótica, que é a tecnologia mais avançada disponível para tratamentos cirúrgicos hoje. Essa especialização aconteceu no Instituto da Rede D’Or, reconhecido pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica (SOBRACIL) e associado à plataforma robótica daVinci, da Intuitive. 

Mas todo esse processo de sempre me especializar tem como base, primeiro, as necessidades que percebo de refinamento do cuidado às minhas pacientes. Acredito que, para cuidar de alguém, é fundamental não só saber prescrever um tratamento, mas entender o contexto daquela pessoa, se ela tem rede de apoio, se ela acredita em alguma religião, o que ela busca com aquela consulta, e como eu posso ajudá-la a ser feliz e ter qualidade de vida.

Por isso, também fiz dois cursos em Medicina do Estilo de Vida, que serviam justamente para me ajudar a entender, com bases científicas, como o Estilo de Vida impacta na nossa saúde como um todo. Um deles foi pela Universidade de Harvard, e o outro pela Universidade Doane, também nos Estados Unidos.

Conta mais sobre essa especialização em cirurgia robótica: como ela auxilia a sua atuação na ginecologia?

Os estudos atuais em ginecologia mostram que, quando falamos em resultados, a técnica da cirurgia robótica não é necessariamente superior à laparoscopia, que é um outro tipo de cirurgia minimamente invasiva. No entanto, a minha experiência operando pacientes fez com que eu sentisse falta de instrumentos mais “refinados” e que me possibilitassem entregar um trabalho de melhor qualidade.

Por exemplo: fiz uma cirurgia em uma paciente que tinha endometriose avançada e também tinha uma doença diafragmática. Isso fazia com que acessar a pelve e o abdômen fosse mais difícil. Com os instrumentos da laparoscopia, que são pinças retas, esse acesso continuava sendo difícil. Mas as pinças robóticas têm uma angulação diferente, o que me ajudaria naquele caso.

Outro exemplo muito comum são os casos de endometriose que envolvem doença vaginal. Na laparoscopia, acessar esse local é mais difícil, principalmente para dar pontos, o que fazia com que uma etapa da cirurgia precisasse ser feita por via vaginal em alguns casos. Com a robótica, isso não seria necessário.

O que eu percebi, então, foi que existia uma ferramenta que me permitia entregar uma qualidade técnica cirúrgica muito melhor durante o procedimento. Ter essa possibilidade e poder oferecê-la às minhas pacientes foi o que me fez buscar essa certificação. E, de fato, quando você começa a atuar com a robótica, é perceptível que são muitos os casos em que ela pode auxiliar no intraoperatório.  

Você também foi preceptora de outros estudantes de medicina. Como foi essa experiência?

Dra. Juliana: Entre a minha residência em ginecologia e obstetrícia e a minha segunda residência na parte de cirurgias ginecológicas, fui preceptora dos médicos da Faculdade de Medicina da USP, que também estavam fazendo residência em ginecologia. 

A preceptoria é um concurso. Decidi atuar como preceptora porque, quando saí da residência médica em ginecologia, percebi que queria continuar aprendendo mais sobre ginecologia, mas, ao mesmo tempo, também sentia que era hora de “devolver” para a saúde pública e para as pacientes do SUS tudo que eu já tinha aprendido. Afinal, eu tinha me formado e me capacitado em serviços públicos de excelência. 

Nesse papel, atuei como uma espécie de “tutora” dos novos residentes. Isso possibilitava um contato com os pacientes, mas também me permitia assumir um papel de orientação. E, para mim, em qualquer processo de aprendizagem e de capacitação, ensinar alguém é uma etapa muito importante.

Esse período foi muito significativo para mim porque me fez desenvolver algumas habilidades que me possibilitaram ser uma ginecologista ainda melhor para as minhas pacientes : desde o conhecimento técnico mais refinado, até a empatia e habilidade de lidar com várias pessoas diferentes, em contextos diversos.

Como a endometriose virou o seu foco na ginecologia?

Durante as minhas especializações, já atendia pacientes com endometriose e dor pélvica crônica. E percebi, desde essa época, que essas pacientes eram muito pouco assistidas, no sentido de que, às vezes, passam a vida inteira sem diagnóstico

Qual é o papel da ginecologista nos casos de endometriose? Identificar sintomas, direcionar a paciente, reforçar a importância de um tratamento multidisciplinar e, se necessário, fazer a operação da maneira adequada. Uma paciente que é operada, pela primeira vez, do “jeito certo”, ou seja, com a retirada de todos os focos, com auxílio de uma equipe multidisciplinar, é uma paciente que vai ter menos chances de retorno da endometriose e mais probabilidade de melhora dos sintomas. Só que, muitas vezes, essa primeira cirurgia não é feita da maneira mais adequada. E isso gera a necessidade de cirurgias consecutivas. 

Então, comecei a perceber, com a minha atuação na ginecologia e com a especialização em cirurgias minimamente invasivas, que essas pessoas precisavam de cuidado e acolhimento, claro, mas também precisavam de cirurgiões com excelente capacitação técnica para realizar cirurgias avançadas. Foi quando eu decidi unir as duas coisas. 

E a endometriose também é uma doença que envolve muito estilo de vida, tanto para controle de sintomas, quanto para melhora do bem-estar geral. Então, é uma doença que reúne tudo o que eu acredito em relação ao cuidado global com a mulher que busca atendimento.

Quais os maiores desafios que você encontra, hoje, na sua atuação?

Quando falamos de cirurgias minimamente invasivas e cirurgias robóticas, acho que o grande desafio é conseguirmos capacitar bons profissionais para entregar uma maior qualidade técnica para cada vez mais mulheres. 

Por outro lado, quando o assunto é a endometriose, acho que o maior desafio é a informação das próprias pacientes. É difícil fazer com que elas conheçam o próprio corpo — porque esse é, de fato, um processo complexo — e isso toca em questões socioculturais. Nesse tipo de tratamento, é preciso desmistificar a ideia de que, enquanto mulheres, precisamos aguentar tudo, especialmente a dor, ou de que não precisamos estar atentas aos sinais do nosso corpo. 

Você também foi diagnosticada com endometriose. Isso te ajudou nas consultas ginecológicas?

Sim. O meu diagnóstico aconteceu durante o período das especializações, quando, com os atendimentos e esse foco no cuidado das pacientes, também decidi olhar um pouco mais para mim.

Foi um processo de autodescoberta. Antes, eu tinha medo de expor esse pedaço da minha vida, porque, além de ser muito pessoal, também me dava aquela sensação de que eu pareceria frágil. Mas o que aconteceu foi justamente o contrário: isso melhorou a minha relação com as pacientes, porque elas entendem que eu sei pelo que elas estão passando.

Receber o diagnóstico e passar por todo esse processo foi essencial ao longo da minha formação e evolução como ser humano e profissional. É claro que, como profissional da saúde, era estranho me submeter ao processo de tomar medicação, passar por uma cirurgia, ter que me recuperar. Mas ter passado por tudo isso — por todo o processo que as minhas pacientes também passam, desde o atraso do diagnóstico, não me adaptar aos hormônios, até a opção pela cirurgia — me trouxe um olhar que eu talvez não tivesse antes

Agora, consigo ajudar mais as minhas pacientes a entenderem que o nosso corpo é finito e que a recuperação de uma doença não depende apenas de nós, é um processo que tem seu  tempo natural. Além disso, percebi o quanto é importante que a gente exercite a nossa autonomia e protagonismo em relação às nossas decisões em saúde. Isso possibilitou que, cada vez mais, eu conseguisse entregar às mulhere que me procuram um cuidado mais individualizado, no qual eu consigo focar mais nos pontos de incômodo e medos daquela paciente e, ao lado dela, entender como reduzir esse desconforto e ajustar as expectativas sobre o que esperar. 

Como você conheceu a Oya e começou a atuar aqui?

Eu e a Ste [Stephanie von Staa Toledo, CEO da Oya Care] somos amigas há muito tempo. De certa forma, fui uma das primeiras pessoas a ver a Oya nascer. E nós compartilhamos os mesmos valores, acreditamos nessa ideia de que o conhecimento potencializa a autonomia. 

Quando ela começou a construir a Oya Care, meu papel era prestar um auxílio técnico, como uma espécie de consultoria. Sempre admirei esse trabalho, essa construção de uma clínica que se importa tanto com as pessoas. E, no fundo, sempre acreditei que nossos caminhos se cruzariam um pouco mais.

Até que chegou o momento da Oya começar a estruturar a sua frente cirúrgica, e ele aconteceu bem quando eu também estava buscando esse tipo de novo desafio. Então a gente se juntou, e eu fico muito feliz de poder contribuir com esse projeto e ter espaço para falar, ouvir, crescer junto e conseguir entregar um cuidado de qualidade para o maior número de mulheres possível. 

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