O que é Fadiga de Zoom? Por que as mulheres sofrem mais?

Depois de dois anos desde a chegada da Covid-19, a Fadiga de Zoom (aquela exaustão provocada pelas videochamadas) já é quase da família, pelo menos na vida de estudantes e profissionais em home office. 

Mas a novidade (que nem é tão novidade assim, convenhamos), é que o esgotamento tipicamente pandêmico afeta muito mais as mulheres do que os homens. 

O mesmo grupo de pesquisadores de Stanford (incluindo a brasileira Anna Carolina Muller Queiroz) que identificou o fenômeno ano passado, se debruçou agora na relação entre a Fadiga de Zoom e as diferenças de gênero: as mulheres são as mais afetadas. 

O que é Fadiga de Zoom e por que tanto se fala disso?

O contexto já é um velho conhecido: surge a Covid-19 e o isolamento social se faz necessário. Pessoas que desempenham funções de escritório, possíveis de serem realizadas em qualquer lugar com computador, celular e internet em mãos, começam a trabalhar de casa. Equipes inteiras têm que adaptar o espaço do próprio lar para encaixar ali também o local de trabalho. A necessidade de contato e diálogo para a resolução de problemas lota as agendas de reuniões via videochamada: aí que mora o perigo.

Quatro, cinco, seis, SETE reuniões de trabalho em uma carga horária de 8h diárias. É barra, né?! E todas elas feitas por videoconferência, grande parte pelo aplicativo Zoom (que dá nome à síndrome) e outra enorme parte por similares: Google Meet, Microsoft Teams, Skype etc. 

Câmera aberta, microfone também, fone de ouvido na orelha, problemas de conexão, na tela um monte de carinhas com rostos que parecem estar perto demais do seu. Uma call em cima da outra, sem espaço para ir ao banheiro, beber água, descansar um pouco… Isso sem falar em você encarando sua própria imagem no espelho o dia inteiro e a vida do lar acontecendo.

Ah, e se depois do trabalho quiser falar com algum amigo ou familiar é por chamada de vídeo ou mensagem de texto.

Chega o fim do dia, EXAUSTÃO. Dores de cabeça, cansaço visual, sensação de impotência, vontade de nunca mais ver um notebook na sua frente: isso é Fadiga de Zoom, um esgotamento causado pelo excesso de videochamadas.

Tela de computador ilustrada em vetor

Principais causadores da Fadiga de Zoom

‍Em resumo, os principais causadores da Fadiga de Zoom são:

  • Cansaço visual;
  • “Efeito espelho”, a ansiedade causada pela própria imagem;
  • Mobilidade reduzida (sentimento de estar presa à área que pode ser vista pela câmera);
  • O peso da comunicação não-verbal (como gestos e expressões faciais), que deixa de ser espontânea;
  • Hipervigilância, aquela sensação de que estão todos te olhando o tempo inteiro.

Fatores que, segundo a pesquisa da Stanford, são ainda mais danosos para as mulheres.‍

Fadiga de Zoom e as mulheres

Entre as 10 mil pessoas entrevistadas pelo estudo, 1 a cada 7 mulheres disse que se sente “muito” ou “extremamente” afetada pelas videochamadas – entre os homens, apenas 1 a cada 20 afirmou o mesmo. 

A síndrome pode até ser novidade, mas os motivos para essa diferença de gênero são nossos velhos conhecidos, como os conflitos de imagem e outras consequências da desigualdade que enfrentamos todos os dias.

Mão segura celular com rosto de mulher na tela

Mulheres têm mais dificuldade de encarar a própria imagem

Graças aos padrões de beleza e ao contato intenso com imagens irreais de outras pessoas na televisão e na internet, é difícil se olhar por tanto tempo (e saber que está sendo olhada), mantendo a autoestima intacta. De acordo com o estudo, o “efeito espelho” é o item na equação da Fadiga de Zoom em que mais se observa a diferença do impacto entre homens e mulheres.

Outro estudo, feito pela Singu (maior marketplace de beleza e bem-estar da América Latina), mostrou que quase 70% das mulheres sentem a pressão do chamado “capital estético” no ambiente de trabalho – ainda que digitalmente. A grande maioria das 1.300 entrevistadas afirmou que se sente pressionada para estar com a beleza “em dia” durante as videochamadas e 20% disseram que precisam estar “impecáveis” por exigência do trabalho.

O problema se intensifica se considerados aspectos relacionados à raça: o levantamento de Stanford mostrou que pessoas não-brancas também se mostraram mais sensíveis à Fadiga de Zoom. O “efeito espelho” e a ansiedade de performance são mais pesadas para aqueles que fogem à norma branca e masculina do mercado. A descoberta foi um dos insights inesperados da pesquisa, que em sua conclusão recomenda o aprofundamento na questão racial em futuros estudos para que o fenômeno seja compreendido de maneira ainda mais ampla. ‍

Sorriso forçado aberto por dedos indicadores

Mulheres precisam ser simpáticas

A ciência comprova: mulheres sorriem mais nas videochamadas. Ser agradável, simpática e sorridente estão entre as obrigações invisíveis das mulheres no mercado de trabalho, já que quando assertivas são vistas como ameaçadoras e difíceis de lidar.

Em vídeo, isso cansa mais ainda. Para demonstrar essa simpatia via call, expressões de linguagem não-verbal que surgem de maneira espontânea em conversas presenciais precisam ser “forçadas” para surtir o efeito desejado. Resultado: ficamos ainda mais cuidadosas sobre a necessidade de sorrir, gesticular e estabelecer contato visual, o que demanda energia e contribui para a Fadiga de Zoom.‍

Seis janelas de computador espalhadas

Carga mental e jornada dupla

A pesquisa sobre Fadiga de Zoom identificou também que o tempo de duração das reuniões é maior para as mulheres, com intervalo reduzido entre uma chamada e outra. Esse dado é ainda mais preocupante se levarmos em consideração que, de modo geral, a pandemia tem afetado mais a nós graças às mudanças no trabalho somadas ao cuidado com a casa, as crianças e familiares doentes

A carga horária no trabalho formal aumentou, e as demandas da casa também.

Mais cansaço na conta. Segundo pesquisa do IBGE divulgada em 2020, mulheres são responsáveis por mais de 90% das tarefas domésticas e passam, em média, 18,5 horas por semana cuidando da casa ou de familiares. O número corresponde a quase o dobro do tempo que os homens dedicam às mesmas tarefas: 10,4 horas.

Vale lembrar também das 20 milhões de mães solo do Brasil, que sofreram e têm sofrido ainda mais sobrecarga de trabalho durante o período de aulas remotas ou em modelo híbrido – tendo que lidar sozinhas com a Fadiga de Zoom dos filhos, além da própria.‍

E o futuro? Vamos ter que aprender a conviver com a Fadiga de Zoom?

Apesar do avanço da vacinação contra a Covid-19 e da melhora nos indicadores de óbitos e internações, novas variantes assustam e já levam alguns cientistas a entenderem que vamos ter que conviver com a pandemia por algum tempo. Muita gente ainda não voltou para o regime presencial e muitas empresas entenderam que os modelos remoto ou híbrido podem ser rentáveis a longo prazo. Ou seja, não estaremos livres do Zoom por um bom tempo.

De olho nessa realidade que leva à Fadiga de Zoom, aplicativos como Google Meet, Microsoft Teams e o próprio Zoom já têm investido em recursos que minimizem os ônus das longas horas em videochamadas. 

Os planos de fundo ilustrados ou com paisagens do Google Meet ajudam a manter a privacidade do espaço de trás do profissional enquanto participa da videochamada. Já o Teams, lançou o modo “juntos”, que ilustra a presença de todos os presentes da call como se estivessem partilhando do mesmo ambiente.

Rosto de mulher com expressão de cansaço

Como minimizar a Fadiga de Zoom?

Além de aproveitar recursos que as próprias plataformas de videochamadas oferecem, nós da Oya temos algumas dicas para te ajudar a minimizar a Fadiga de Zoom:

  • Levante e se movimente entre uma reunião e outra;
  • Priorize atividades offline após o expediente;
  • Diminua o brilho das telas;
  • Invista em ergonomia no home-office;
  • Se você usa notebook, invista também em um teclado externo (assim você consegue ficar um pouco mais longe da tela do computador);
  • Esconda a janela em que você aparece durante as reuniões.

‍E aí, como está sua relação com o Zoom? E com o trabalho, de maneira geral? Novos tempos, novos desafios, mas muito antes da pandemia e da onipresença das chamadas de vídeo nas nossas vidas, as mulheres já tinham uma relação mais intensa e complicada com o mercado de trabalho. Para continuar esse papo, vem com a gente até o próximo post: você concorda que falar de fertilidade também é falar de trabalho?

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