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Vivendo com a dor: um corpo que dói pode sentir prazer?

Prazer e culpa andam juntos, e quem convive com a dor sente essa relação de forma intensificada.

Faz pouco tempo que percebi o quanto nos sentimos culpadas quando direcionamos nossas ações e pensamentos para o prazer. É quase um condicionamento social que determina que a vida só faz sentido quando estamos 100% do tempo enfrentando desafios, trabalhando na superação e resolução de problemas. Nesse contexto, soa estranho simplesmente relaxar e procurar o prazer. 

Tenho certeza que estas frases passam ou já passaram pela cabeça de muitas mulheres que estão me lendo:

  • “Me sinto culpada quando escolho descansar e não trabalhar”;
  • “Me sinto culpada quando como um doce que gosto”;
  • “Me sinto culpada por dormir até mais tarde e pular um dia de treino”;
  • “Me sinto culpada por explorar meu corpo e as sensações prazerosas que ele pode oferecer”.

Se sentimentos assim já são tão comuns para mulheres de maneira geral, imaginem vocês como a situação piora quando aquele corpo que já têm esses milhões de pensamentos e demandas normalmente sente DOR.

A banalização da dor 

Desde meninas, aprendemos que nosso corpo suporta mais dor e por isso naturalizamos as cólicas menstruais intensas e somos ensinadas a ser produtivas em todas as fases do mês. Essa despersonalização e distanciamento da percepção individual de dor, junto à ideia de que devemos suportar as dores físicas e emocionais, atrapalham o autoconhecimento. Isso prejudica o exercício de estabelecer limites saudáveis para o que iremos suportar, bem como o desenvolvimento da auto compaixão para reconhecer que tudo bem buscarmos formas prazerosas de viver, podemos e merecemos (re)estabelecer o cuidado saudável conosco. 

Para quem tem endometriose, uma doença que pode passar até 10 anos sem diagnóstico e tratamento adequados e que tem as dores incapacitantes como seu principal sintoma, o exercício de aprender a gostar do próprio corpo e sentir prazer (sem culpa) com este corpo que dói, parece um desafio inatingível.

“É impossível gostar de um corpo que dói. Dói de dia, dói de noite, dói no trabalho, dói no exercício, dói no sexo. Me permitir sentir prazer é muito distante de mim” é um exemplo de frase que já ouvi muitas vezes no consultório. E, infelizmente, preciso dizer que quem pensa assim tem razão: a dor de fato nos distancia do autocuidado, nos enclausura, nos impede de acessar de maneira plena o nosso corpo, que é nosso veículo de comunicação com o mundo. 

Mas hoje vim te contar um segredo: não precisa ser assim. Podemos SIM permitir que um corpo que dói sinta prazer, volte a ter prazer. Sem culpa. 

Como sentir prazer, apesar da dor

O primeiro passo, claro, é buscar tratamento adequado e especializado para tratar os sintomas e ter um direcionamento adequado das causas associadas. O segundo passo é entender que a gente consegue ressignificar o que são as formas prazerosas de viver a vida.  Este novo corpo dolorido pode ter algumas limitações, mas ainda é capaz de buscar e sentir prazer. 

Cada uma tem sua maneira de se reencontrar, mas a dica que eu sempre dou para quem me procura é: buscar atividades que te ajudem a se reconectar com sua forma livre, com sua “criança interior”. Em geral, são atividades lúdicas, que te permitam ser criativa e te ensinam que existe prazer na pintura, na dança, na escrita, na música, na culinária, em atividades corporais como circo e yoga.

Elas vão te ajudar a reencontrar a libido perdida, que é a força que nos move e nos dá vontade de viver, aquela que a dor pode ter te tirado por muitos anos. 

Novas atividades criativas podem ajudar a estimular a sensorialidade, o que também estimula a libido. Elas auxiliam no desenvolvimento da neuroplasticidade, ou seja, na formação de novos circuitos de atividade neuronal no cérebro, podendo impactar na modulação da dor crônica. Atividades como dança e yoga também melhoram a mobilidade pélvica entre os tecidos, e o aporte sanguíneo aos mesmos, o que pode auxiliar na redução da dor pélvica crônica decorrente da endometriose. 

Por fim, mas não menos importante, sentir prazer libera ocitocina e endorfinas, que são moléculas que auxiliam MUITO na redução da dor. 

Com acompanhamento adequado e especializado, é possível sim viver, algum dia, sem dor. Mas a minha reflexão de hoje te convida a ir além: em vez de esperar uma solução para viver a vida que você merece de maneira plena, podemos encontrar, ao longo do caminho, mesmo com dor, momentos de prazer que fazem a vida valer a pena. Sem culpa. 

Finalizo citando um trecho do livro “Enquanto eu respirar”, da jornalista Ana Michelle, que conviveu anos de sua vida com câncer de mama em cuidados paliativos:

“Despratiquei as normas sobre o que é esperado de um paciente em tratamento paliativo, e vivo por aí, a distribuir vida e gratidão pela beleza de mais um dia. Porque, no meu último suspiro, meus caros, eu não quero ver o reflexo no espelho de dores que não me definem. Quero um filme lindo, de amor e aventura, com o final feliz que eu mereço.”

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