É possível engravidar com endometriose?

Quem tem endometriose pode engravidar? Taí uma pergunta que tira o sono de muita gente, talvez por não ter uma resposta exata. Cada corpo é único, cada endometriose também. Mas fato é que fertilidade e endometriose são assuntos interligados. 

Não é à toa que a possibilidade de enfrentar problemas na hora de gestar costuma ser uma das primeiras preocupações de quem recebe o diagnóstico.Cerca de 30-50% das pessoas inférteis têm endometriose, enquanto 25-50% de quem é afetada pela endometriose é infértil.

Ou seja, a correlação existe. Mas isso não significa, necessariamente, que quem tem endometriose não pode engravidar. 

Infelizmente, a falta de informações precisas sobre a doença é um dos principais fatores que contribuem para o atraso no diagnóstico, que pode levar de 8 a 10 anos. São anos de dores e desconfortos que prejudicam a qualidade de vida e que adiam o início do tratamento que poderia prevenir complicações mais graves, incluindo a temida infertilidade.

Março é o mês internacional da conscientização sobre a endometriose. Decidimos aproveitar a data para trazer um pouco de luz sobre o assunto e tentar responder, ainda que de forma geral, qual a relação entre endometriose e fertilidade e se quem tem endometriose pode engravidar. Vamos juntas?

Quem tem endometriose pode engravidar?

Antes de responder se quem tem endometriose pode engravidar, é importante recordar o que é a endometriose. 

A parte interna do nosso útero é revestida por um tecido chamado endométrio, responsável por acomodar um possível embrião em caso de gravidez. A cada ciclo menstrual, se não houver fecundação, o endométrio se descama e você menstrua. Simples assim.

Mas, no caso de pessoas com endometriose, no meio desse processo algumas células semelhantes às endometriais surgem e se desenvolvem em outros órgãos. Esse comportamento atípico pode comprometer diversos órgãos, como ovários, tubas uterinas, bexiga, intestino, diafragma e peritônio pélvico (a parede que forra o abdômen).

A forma como a endometriose afeta o organismo depende muito do corpo de cada pessoa, do grau da doença, e também de fatores externos, como hábitos, estilo de vida e o ambiente em que você vive. Por isso, a resposta simples e rápida para quem se pergunta se quem tem endometriose pode engravidar é sim – mas depende. 

Vamos entender mais sobre esses possíveis desafios a quem está buscando engravidar com endometriose?

Endometrioma ovariano

O endometrioma ovariano é uma espécie de cisto que pode ser causado pela endometriose. Ele é formado a partir de fragmentos do endométrio que circulam nas tubas uterinas durante a menstruação (lembre-se que o fluxo menstrual é composto do endométrio que se desmancha todo mês quando não há fecundação do óvulo) e se espalham até chegar no ovário.

Graças ao estímulo hormonal que rola todo mês devido ao ciclo menstrual, esse tecido cresce, sangra e se acumula ali até formar um cisto, chamado de endometrioma. Dependendo do tamanho e da forma como está posicionado, o endometrioma pode atrapalhar na hora de engravidar com endometriose.

Isso acontece pelo risco de redução do fluxo sanguíneo na região dos ovários, por conta da compressão causada pelo cisto; estresse oxidativo e inflamação no local; e fibrose da região onde ficam os folículos, a famosa reserva ovariana. 

Quem tem endometriose pode engravidar mesmo com um endometrioma. Em alguns casos, especialmente com endometriomas acima de 4 cm associado a sintomas, a cirurgia pode ser necessária. Como o procedimento é delicado e pode danificar a reserva ovariana, o congelamento de óvulos pode ser recomendado antes da cirurgia, principalmente nos casos de endometriomas grandes e/ou bilaterais, uma vez que aumenta as chances de preservar a fertilidade da pessoa afetada.

Obstrução das tubas uterinas

As células endometriais fora do lugar  podem se instalar nas tubas uterinas causando inflamação e obstrução. No momento da ovulação, esse bloqueio impede a passagem do óvulo para um possível encontro com o espermatozoide.

Mesmo se houver fecundação, a obstrução pode atrapalhar o transporte do embrião até o útero, provocando uma gravidez tubária. 

Outra consequência da obstrução tubária causada pela endometriose é a hidrossalpinge: o acúmulo de líquidos ao redor ou no interior das tubas uterinas, consequência do processo inflamatório causado pela endometriose. Se não for tratada, ela pode atrapalhar a implantação do embrião mesmo em tratamentos de reprodução assistida.

Aderências pélvicas e fibrose

A inflamação provocada pela endometriose também pode dar origem às aderências pélvicas, especialmente em casos mais graves da doença. Chamamos de aderências os tecidos cicatriciais (formador por cicatrizes) que surgem entre órgãos e estruturas como uma espécie de cola. 

As aderências mudam a anatomia e a disposição dos órgãos pélvicos, prejudicando a chegada do óvulo até as tubas uterinas após a ovulação. Sem tratamento adequado, a fertilidade pode ser prejudicada.

Com a fibrose, o ciclo é parecido: fora do seu lugar devido, as células de tecido semelhantes ao endométrio provocam inflamação e essa inflamação gera cicatrizes que podem formar uma fibrose. Dependendo de onde ela estiver instalada, pode haver comprometimento dos órgãos reprodutivos. 

Quem tem endometriose pode engravidar mesmo sob essas circunstâncias, mas a cirurgia pode ser necessária e, quanto antes ela for realizada nesses casos, maiores são as chances de preservar a fertilidade.

Inflamação pélvica 

Os casos que citamos acima são mais comuns em casos “extremos” da endometriose, aqueles que chamamos de endometriose profunda. No entanto, não podemos ignorar os efeitos que a manifestação mais básica da endometriose – a inflamação – provoca. 

O processo inflamatório pode prejudicar a ovulação e o transporte de esperma, além de trazer dificuldades na implantação do embrião no útero.  

Qual o tratamento para engravidar com endometriose?

Como destacamos na introdução, cada corpo é único e cada endometriose também. A avaliação médica é o primeiro passo para entender, primeiro, se você pode engravidar com endometriose e, depois, qual o tratamento mais indicado para o seu caso. 

Mas, para não te deixar no escuro, podemos adiantar algumas possibilidades. Para os quadros que explicamos acima, o principal tratamento é a cirurgia para a remoção dos focos de endometriose e/ou procedimentos de reprodução assistida.

De 12 a 24 meses após o procedimento é onde existe a maior chance de gestação, tempo que os especialistas chamam de janela de oportunidade para engravidar com endometriose.

Mas fica novamente o alerta: o acompanhamento médico individualizado é fundamental para o planejamento de vida fértil de pessoas com endometriose. Apenas o seu médico é capaz de indicar o momento certo para engravidar com endometriose sem grandes riscos.

Fatores que afetam a fertilidade além da endometriose 

Por mais que a endometriose seja um fator de risco relevante para quem deseja engravidar um dia, ela não deve ser o único foco de quem se preocupa com a própria fertilidade. A fertilidade feminina é complexa e pode ser afetada por muitos fatores, que inclusive podem se influenciar mutuamente.

São eles:

  • Idade: sim, a fertilidade feminina é finita! O tempo afeta não só a quantidade, mas também a qualidade dos nossos óvulos. Saiba mais!;
  • Estilo de vida: seus hábitos também contribuem (para o bem e para o mal) para a sua saúde reprodutiva. Álcool em excesso, tabaco, obesidade, magreza extrema, qualidade do sono, sedentarismo, alimentação rica em carboidratos brancos (alimentos com excesso de açúcar, ultraprocessados e refinados) e gorduras saturadas são elementos que prejudicam a fertilidade e podem impactar a evolução da endometriose e a piora dos sintomas;
  • Histórico de saúde (por exemplo, doenças autoimunes) e familiar (casos de menopausa precoce na família); 
  • Cirurgias ovarianas prévias.

Além de todos esses fatores, não podemos esquecer que as pessoas do sexo feminino não são as únicas responsáveis pela gestação. Se você tem um parceiro e está tentando engravidar há mais de 12 meses (ou 6 meses, se você tiver mais de 35 anos) sem sucesso, de nada adianta investigarmos tudo sobre você e nada sobre ele.

Entender a fertilidade masculina é igualmente importante!

Por que falar sobre endometriose?

Se perguntar se quem tem endometriose pode engravidar é apenas uma das inúmeras dúvidas que rondam o universo da doença. O próprio caminho até ela, ou seja, o diagnóstico, é marcado por incertezas, silêncios e perguntas. Você sabia que uma pessoa hoje demora entre 8 e 10 anos para receber um diagnóstico de endometriose?

São anos de dores e desconfortos que prejudicam a qualidade de vida e que adiam o início do tratamento que poderia prevenir complicações mais graves, incluindo a temida infertilidade. Não só a saúde física é impactada nesse processo: estamos falando de uma condição cujos sintomas afetam diretamente a saúde emocional, os relacionamentos e até a relação com o próprio corpo.  

Acreditamos que a falta de informação de qualidade sobre endometriose – entre pacientes e profissionais de saúde – é uma das principais culpadas pelo atraso no diagnóstico, e é por isso que estamos aqui. 

Março é o mês internacional da conscientização sobre a endometriose, bandeira que escolhemos em 2023 para promover o Mês da Mulher aqui na Oya em parceria com o Endotalks. O Endotalks é um evento social, gratuito e online que veio para promover a educação e a conscientização sobre a endometriose. 

A ação reúne autoridades no tema unidas para compartilhar informações de qualidade e facilitar a troca de experiências sobre essa doença que atinge 1 a cada 10 pessoas do sexo feminino em idade fértil no mundo.

Vamos juntas?

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