Congelamento de óvulos, uma permissão para ser vulnerável

Fundei a Oya em 2020, ano em que fiz 32 anos. Na época entendia — racionalmente — por que o Brasil precisava de uma clínica para a mulher moderna. Mas só agora, no final de 2022, realmente senti a potência desse conceito: em dezembro, fui a primeira pessoa a fazer congelamento de óvulos pela Oya Care.

O processo todo, entre estimulação ovariana com aplicação de hormônios, punção (retirada dos óvulos) e recuperação, durou quase três semanas. Durante a primeira fase, consegui levar a vida relativamente bem, convivendo com as famosas ondas de humor e mais algumas surpresas e sensações que não previa (alô libido!). Andar de Uber com ovários inchados? Nunca mais! 

A punção foi realizada no Fleury Fertilidade – nosso parceiro nessa empreitada e uma instituição que tem a minha absoluta confiança – e conduzida pela Dra. Natalia Ramos, ginecologista especialista em fertilidade que é líder clínica da Oya Care. Além disso, estava do meu lado a minha amiga-acompanhante-maravilhosa (outra coisa que não sabia: você vai precisar de uma pessoa para ser sua acompanhante, senão, não recebe alta!). Ou seja, também estava muito confortável e segura. 

Já a minha fase de recuperação foi muito pior do que eu esperava:  realmente ficar de cama por três dias (a maioria das pessoas se recupera mais rápido que eu!) e nos dias seguintes cada célula do meu corpo parecer viver em ritmo de inverno de Vivaldi.

Depois dessa maratona, o que ficou?

Ficaram 18 óvulos congelados e muitas reflexões.

A primeira reflexão veio ainda na salinha cirúrgica, quando comecei a sentir a sedação. Foi uma sensação de libertação que representava não só a minha liberdade, mas também a das gerações de mulheres que fazem parte da minha ancestralidade. Iam extrair de mim aquelas “bolinhas” que nasceram comigo, formadas ainda na vida uterina;  eu, outrora, fui também uma “bolinha” no ventre da minha mãe, que foi uma “bolinha” lá dentro da mãe dela e assim por diante.

Reverberei o encontro da deusa com a ciência através do meu corpo e da medicina. A ciência cartesiana ainda não tinha me ajudado a entender esse conceito, pois talvez seja uma questão mais quântica do que cartesiana. Quando acordei da anestesia, senti — ainda mais — amor no coração. 

Nos dias subsequentes, à medida que os hormônios iam se reorganizando, a principal sensação que tive foi de liberdade. Liberdade não para ser forte e independente, mas para ser vulnerável.

Refletindo sobre a geração das nossas avós, nas décadas do pós-guerra, fica a sensação de que elas otimizaram a vida para sobreviver. As alianças, os casamentos, as decisões: tudo isso foi pautado a partir de uma necessidade de sobrevivência.

Por sua vez, nossas mães tiveram a questão da sobrevivência mais amenizada, mas, em contrapartida, uma certa “moralidade” ganhou espaço, talvez para garantir a sobrevivência conquistada a duras penas. Quem é certo, quem é errado. Como se relacionar certo, errado. Como trabalhar certo, errado. Como criar filho certo, errado. Qual padrão de vida ter.

A nossa geração tem essa vocação também, vide a onda de cancelamentos que vivenciamos nos últimos anos. Ainda existe uma ansiedade de definir o que é certo e o que é errado que, junto com a sempre-presente-internet, numa realidade em que as novas gerações (millennial e Z) têm, na média, menos poder aquisitivo que seus pais, traz consigo o gran finale: ansiedade e exaustão da mulher moderna.

Não é à toa que a libido e a fertilidade retrocedem rapidamente entre nós.

Para quem não leu ainda, fica a dica de leitura: “Aurora: O despertar da mulher exausta”, por Marcela Ceribelli.

O que esperar do futuro?

À medida que se torna possível para cada vez mais pessoas, a decisão de fazer congelamento de óvulos deverá marcar o início de uma mudança geracional, similar àquela que vivemos com os telefones móveis. Explico:

Congelar os óvulos me libertou da necessidade de acertar, me deu permissão pra ser vulnerável. Sinto menos pressão para acertar de pronto nas minhas decisões e escolhas profissionais e pessoais, o que me permite experimentar mais, por exemplo:

  • Que tipo de trabalho quero fazer —  tenho “tempo” de testar esse aqui? E se não der certo? Tudo bem! Não tenho mais TANTA pressa de conseguir bancar casa, cachorro, filho e papagaio; 
  • Como quero viver minha sexualidade? Falo de orientação sexual, mas também de hábitos, estilos e experiências nessa área; 
  • Que tipo de pessoa ou comunidade quero ter por perto quando decidir ter filhos?; 
  • Será que eu quero ter filhos? Posso adiar essa decisão sem consequências definitivas?

Essas são perguntas para as quais estava tentando acertar a resposta de primeira. Agora, estou com a perspectiva de me permitir “errar” de primeira, de segunda…

Quando penso nas mulheres que conheço de gerações anteriores à minha, vejo mulheres fortes, que aguentaram, que lutaram para sobreviver como o “sexo frágil”, que fizeram tudo pela família, inclusive abdicar de si mesmas. Não por acaso, o feminismo hoje é mais associado à força e ao empoderamento do que à sensibilidade. Ironicamente, um ideal que muito mais se assemelha à natureza masculina que a feminina.

Mas eu não quero ‘aguentar’, não quero ‘sobreviver’. Quero ser vulnerável, sensível, flexível. Almejo o privilégio de explorar as minhas emoções, corpo e experiências para tomar decisões. 

Eu quero ter a chance de sair dos lugares confortáveis da minha psique e explorar os cantos escuros e escondidos da minha alma. Quero usar meu corpo e o meu tempo para chegar lá. Quero libertar o meu corpo do binarismo daquilo que é certo/errado e deixá-lo se divertir, me dominar — levar minha psique para passear.

Quero dançar, quero sentir, quero experimentar. Quero amar e ser amada, sem paranoia. Quero ser vulnerável, não quero ser forte. Quero ter a coragem para descobrir quem sou na minha essência.

Congelamento de óvulos pela Oya Care

Hoje lançamos o congelamento de óvulos da Oya Care, por enquanto disponível apenas para quem já é oyana. Sabemos que hoje o congelamento de óvulos ainda é um procedimento bastante caro. Por aqui, não vamos descansar até conseguir que todas as pessoas que queiram, que precisem, tenham como realizá-lo.

Se você quer saber mais sobre o tema, veja o e-book completíssimo da Oya sobre congelamento de óvulos.

Caso ainda não tenha certeza sobre o congelamento, mas quer entender mais sobre a sua fertilidade, eu recomendo a nossa Descoberta da Fertilidade. Esse é o serviço da Oya que te ajuda a entender onde no seu corpo está a linha do tempo da fertilidade, e te dá a oportunidade de pensar e planejar o que é melhor pra você com um de nossos especialistas.

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