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Congelamento de óvulos: “Escolhi a possibilidade de escolher”

Nas palavras de Clarice Lispector em Água Viva, “a vida é feita de instantes”. Estamos a todo momento experimentando o agora, como um desencadear de futuros que viram presente, para se tornarem, então, passado. Neste fluxo, criamos e recriamos a nossa vida: construímos a nossa história, nos relacionamos, tomamos decisões, crescemos, erramos, aprendemos. Neste processo de construção, o tema “maternidade” foi ocupando cada vez mais espaço dentro de mim ao longo dos últimos anos. 

Me deparei com a ideia de maternidade pela primeira vez quando tinha 28 anos, em 2020, quando me voluntariei para viver o protótipo do que hoje é a Descoberta da Fertilidade da Oya Care, a nossa avaliação de reserva ovariana. Na época, a Ste [Von Staa], fundadora da empresa, estava concebendo a Oya e a experiência do serviço, e toda aquela faísca brilhante que a clínica já era e viria a ser me encantou tanto que quis me juntar à empreitada. 

A descoberta: “Fertilidade, maternidade e congelamento de óvulos não tinham cruzado minha mente até aquele momento.”

Embora sempre tenha me interessado por temas ligados às mulheres e ao feminino, fertilidade, maternidade e congelamento de óvulos não tinham cruzado a minha mente até aquele momento. Somos tão ensinadas a temer a gravidez que eu queria distância de qualquer coisa que me aproximasse do tema, mesmo que fosse somente no plano das ideias. Soma-se a isso o fato de que sempre questionei tanto as imposições sociais colocadas nas mulheres – e não tem, ainda, imposição maior do que a de ser mãe –  que meu movimento natural foi negar a maternidade e todo seu universo. 

Mesmo assim, viver a minha Descoberta da Fertilidade me levou a pensar sobre o assunto pela primeira vez. Foi neste momento que me deparei com a realização de que a saúde e o nosso corpo podem dar notícias – e muitas – sobre nós. Graças a este processo, o movimento corpo-mente virou uma grande missão de vida para mim e também passou a ocupar papel fundamental no meu processo terapêutico nesses últimos anos. Passei, então, a trabalhar na Oya e a monitorar minha reserva ovariana com o olhar preventivo que tanto prezamos e incentivamos por aqui.

Aos 28 anos, minha reserva estava bem dentro da média, caindo num ritmo esperado para pessoas da minha faixa etária. O que foi interessante de olhar para uma tema como este ao longo do tempo é que a biologia serviu de fio condutor para que eu explorasse e me entendesse de um outro lugar. Tive (e ainda tenho) espaço para me explorar, me investigar e me compreender ao longo dos anos, em diferentes fases e momentos de vida. Fiz isso não a partir de um olhar categórico e fatalista , seja no polo do “tem que ser mãe”, seja naquele que diz “vou contra tudo o que me é imposto”, mas, sim, a partir de um prisma pessoal, individualizado, que entende tais decisões como parte de um espectro, fluidas e mutáveis. 

Navegar entre elas não é tarefa acabada. A cada instante, revisitei minhas vontades quando o assunto era ser ou não ser mãe, me atualizei e reformulei a maneira como via o tema. Vivi uma transformação do “não quero” para o “talvez, um dia”, abrindo espaço para o tanto que ainda não sei sobre mim, sobre a vida e sobre tudo que ainda pode vir a ser. 

Baixa reserva ovariana: “A gente sempre acha que não vai acontecer com a gente”

Foi, então, no final de 2023, quando estava com 31 anos, que meu exame AMH, parte da avaliação de reserva ovariana, veio diferente. A queda tinha se acentuado para além do que seria esperado de um ano para o outro e isso acendeu uma luzinha de atenção. Nas investigações, descobri uma endometriose complicada nos meus dois ovários, o que explica essa diminuição do meu estoque de óvulos.

A gente sempre acha que não vai acontecer com a gente. Construímos na Oya a visão bonita e complexa de que cada corpo é único e que ninguém é a média da população, mas receber a notícia de que você é parte do grupo que vai experienciar uma queda mais acentuada do seu tempo de vida fértil não é fácil. Neste momento algo mudou: não querer ser mãe é diferente de não poder. E esta realização veio com outra: eu quero. Não agora, mas quero, um dia, gestar e ser mãe. 

Dizer isso ainda não é fácil pra mim. É admitir algo grande e imprevisível. Mas é o que neste instante – atual, efêmero e mutante – faz sentido pra mim. Pode ser que não seja verdade para sempre: essa é a beleza do fluxo. A impermanência do agora nos leva a encarar verdades duras mas também traz uma leveza porque escancara a nossa radical liberdade. Escolhemos o tempo todo e, por isso, podemos sempre mudar.

O meu diagnóstico de endometriose e essa realização pessoal do desejo de gestar no futuro fez com que eu mudasse também: “de repente”, passei do time das pessoas que estão pensando em congelar óvulos para o time daquelas que decidiram congelar. 

O processo: “Decidir congelar óvulos é algo muito maluco”

Decidir congelar os óvulos é algo muito maluco. Trabalho com isso diariamente e, mesmo assim, foi uma das decisões mais emblemáticas da minha vida. Experimentei uma sensação de liberdade difícil de descrever. Se nossa mente e nossas possibilidades como mulheres avançaram muito quando comparadas com gerações anteriores, nosso corpo feminino ainda é o mesmo. E isso traz limitações. O congelamento de óvulos ajuda a driblar esses limites e a expandir os contornos da história que queremos construir para nós mesmas. 

Foram 3 meses de preparo: do meu corpo e da minha mente. Iniciei o processo três dias antes do meu aniversário de 32 anos, algo muito simbólico também. De novo, mergulhar no tema congelamento de óvulos a partir do meu próprio corpo movimentou lugares: minhas águas internas se reviraram com os hormônios, com as idas à clínica para fazer ultrassons de controle, com o dia da punção ovariana (retirada dos óvulos) e com os dias que a sucederam. 

A cada dia que injetava o medicamento para potencializar o funcionamento dos ovários, via meu corpo mudar. Me vi inchar, mas, por outro lado, aprendi onde está meu útero (sim, conseguia senti-lo!). Chorei muito sem saber o porquê. Chorei sabendo o porquê. Vivi também uma das piores TPMs da minha vida depois da retirada dos óvulos. Digo piores porque foi uma das mais intensas, mas acredito que isso está longe de ser algo ruim.

Aqui faço um pequeno parênteses e explico: há anos entendo a minha ciclicidade como uma ferramenta de autoconhecimento e a TPM como uma grande lente de aumento para o que precisa ser olhado, cuidado, transformado. O que nos traz incômodo no período pré menstrual não é, normalmente, algo que criamos naquele momento. Só fica mais insuportável ignorar. Essa TPM após a retirada dos óvulos vai ficar marcada na minha história pessoal pois me mostrou algo muito importante e transformou a minha vida. O congelamento de óvulos se mostrar importante para além dos temas gestação e maternidade — por essa eu não esperava.

Me lembro de acordar após sedação e ser recepcionada pela minha mãe, pela Dra. Natalia Ramos (minha médica e grande amiga) e pela Marina, anestesista que, por obra do destino, tinha sido minha colega na escola. Ver aquelas mulheres que simbolizavam momentos diferentes meus, facetas de uma Maria que é um montão de coisas e um pouco de cada uma delas, me encheu de esperança. Esperança. Demorei pra chegar nessa palavra pra descrever o que senti naquele instante. Esperança sobre a minha vida, esperança sobre o que a Oya pode significar para outras pessoas e histórias. Esperança em mim mesma e na minha capacidade de inventar uma vida mais minha, todos os dias.

O que fica após o congelamento de óvulos: “muito a ser vivido”

Não foi só a sensação de liberdade que eu experimentei vivendo tudo isso. Em algum lugar profundo, entrei em contato com uma voz que, mesmo não sendo minha, habita em mim. Uma voz que diz que fracassei. Fracassei no plano romântico-monogâmico-normativo do casar aos 28, ter filhos aos 30 e poucos. É importante lidar com essas vozes, inclusive para nos libertarmos, pouco a pouco, delas. Somos dicotômicas, mesmo. E parte de mim ainda carrega esse ideal de fertilidade aqui dentro.

Às vezes penso que nós levamos muito a sério o fracasso. De fato, fracassei num plano. Mas num plano que eu não quero que seja meu. Ainda bem que fracassei, então, eu diria! Não viver esse plano me abre muitas possibilidades. E, a cada instante, construo o meu próprio caminho. Dá medo? Claro. Somos a primeira geração a de fato poder escolher trilhar uma vida de mais liberdade. Ter referências ajuda; estudar sobre temas que me interessam ajuda também. Mas é no instante, seguido do próximo instante, que realmente aprendo sobre mim, direciono e recalculo a rota. Quando me frustro comigo mesma, quando reajo de uma forma que vai contra o que intelectualmente faz sentido, aprendo e me surpreendo também. 

Viver todo esse processo de imersão no tema fertilidade e congelamento de óvulos fez com que eu mudasse a forma como me enxergo. Descobrir mais sobre meu corpo me fez descobrir mais sobre mim mesma, meus desejos e meus planos de futuro. Projeto inacabado, em gerúndio. A endometriose segue aqui, meu corpo segue conversando comigo sobre coisas que já sei e tantas outras que ainda preciso descobrir. Ainda virão muitos outros presentes que podem atualizar a forma como vejo minha própria fertilidade e meus planos futuros. 

Por isso, esse texto não tem muita conclusão ou desfecho. Termino ele com reticências de uma vida e um corpo que ainda têm muito a ser vivido…

Sobre a autora

Maria Carolina Artioli atualmente lidera a estratégia de marketing e comunicação da Oya Care.

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